Israel recusa trégua, um segundo brasileiro morre e bombardeios avançam no Líbano
O governo israelense rejeitou nesta quinta-feira (26) uma proposta de cessar-fogo de 21 dias elaborada pelos Estados Unidos e França, que visava interromper os ataques entre Israel e o Hezbollah. A proposta, apresentada após discussões na Organização das Nações Unidas (ONU), tinha o objetivo de evitar uma escalada do conflito, que já deixou centenas de mortos no Líbano. No mesmo dia, um segundo brasileiro morreu no conflito.
Nesta sexta-feira (27), um segundo ataque teria matado nove pessoas da mesma família na cidade fronteiriça de Shebaa, no sul do Líbano, incluindo quatro crianças, segundo declaração do prefeito Mohammad Saab à Reuters. O Exército de Israel afirmou que as forças do país atacaram 75 alvos do Hezbollah no dia anterior. Em 24 horas, 92 pessoas morreram e outras 153 ficaram feridas, de acordo com informações do Ministério da Saúde libanês.
Mesmo com os apelos internacionais, o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, foi claro ao afirmar que não haverá cessar-fogo no norte do país. Segundo ele, o foco é continuar combatendo o Hezbollah até que a segurança dos moradores das regiões fronteiriças seja restaurada.
Na quinta-feira (26), um bombardeio israelense atingiu a capital libanesa, Beirute, matando dois civis e ferindo 15 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. A investida também resultou na morte de Mohammad Surur, comandante de uma unidade aérea do Hezbollah. Desde o início da ofensiva, na segunda-feira (23), mais de 600 pessoas já morreram, aumentando as preocupações sobre uma possível escalada regional.
Os ataques entre Israel e o Hezbollah fazem parte de uma série de confrontos que começaram após o grupo libanês intensificar suas operações em solidariedade aos militantes palestinos na Faixa de Gaza. O Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, vem lançando ataques contra o norte de Israel, forçando a evacuação de milhares de civis da região.
Diante desse cenário, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou o compromisso de continuar a ofensiva militar. Antes de partir para Nova York, onde fez um discurso na Assembleia Geral da ONU, Netanyahu declarou que a operação militar contra o Hezbollah será conduzida com “força total” até que todos os objetivos de Israel sejam alcançados.
O Hezbollah, por sua vez, intensificou os ataques contra cidades israelenses, incluindo o lançamento de um míssil balístico em direção a Tel Aviv, que foi interceptado pelas defesas aéreas de Israel. Além disso, o grupo disparou dezenas de foguetes em áreas do norte de Israel, embora a maioria tenha sido interceptada pelas forças israelenses.
Tentativas de cessar-fogo enfrentam resistência
Enquanto a comunidade internacional tenta negociar uma solução pacífica, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente francês, Emmanuel Macron, continuam a defender a proposta de trégua de 21 dias entre Israel e Hezbollah, o que abriria caminho para negociações mais duradouras que pudessem evitar um conflito maior no Oriente Médio.
No entanto, as pressões internas no governo israelense complicam a aceitação do acordo. Membros da ala ultranacionalista, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, se opõem veementemente a qualquer tipo de cessar-fogo, afirmando que a única solução seria a rendição total do Hezbollah. Esses líderes políticos argumentam que dar tempo permitiria ao grupo rearmar-se e continuar a guerra.
O Líbano, por sua vez, tem buscado uma solução para a crise. O ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib, apelou à ONU para que intervenha antes que a situação se torne incontrolável, agravando ainda mais a crise humanitária no país. O Líbano abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios, muitos dos quais também foram atingidos pelos recentes bombardeios israelenses.
A situação no país, agravada pela crise econômica e política, ameaça desestabilizar ainda mais a região. Enquanto as negociações diplomáticas prosseguem, a possibilidade de uma nova guerra envolvendo Israel e o Hezbollah continua a ser uma preocupação global.
Dois brasileiros morrem em bombardeios; FAB está de ‘prontidão’
Dois brasileiros foram mortos em bombardeios no Líbano, resultado dos intensos confrontos entre Israel e o Hezbollah. Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, nascido em Foz do Iguaçu, e seu pai, Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, de nacionalidade paraguaia, morreram após um foguete atingir a cidade de Kelya, no Vale do Bekaa. A família havia morado no Brasil por mais de uma década antes de retornar ao Líbano, onde abriram uma empresa em Sohmor, cidade próxima ao local do ataque.
Outra vítima brasileira foi Mirna Raef Nasser, de 16 anos, nascida em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Mirna havia se mudado para o Líbano ainda criança e vivia na mesma cidade da família Abdallah, em Kelya. Ela era vizinha de Ali Kamal e morreu em um ataque aéreo que atingiu a região na segunda-feira. A notícia da morte de Mirna abalou familiares e amigos, que relataram a convivência próxima entre as duas famílias.
A Força Aérea Brasileira (FAB) já se prepara para uma possível operação de resgate de brasileiros no Líbano, caso o governo decida evacuar seus cidadãos da região de conflito. A aeronave que será utilizada na operação, o KC-30, é a mesma que foi enviada anteriormente para resgatar brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. Com capacidade para mais de 230 passageiros, o avião tem autonomia de voo de até 12 horas, permitindo uma viagem direta do Brasil ao Líbano, sem escalas consideráveis.
Fontes da Aeronáutica afirmaram estar “de prontidão” para o caso de o governo brasileiro dar o aval para a missão. Além disso, a Embaixada do Brasil em Beirute já começou a consultar os cidadãos brasileiros que vivem no Líbano sobre o interesse em receber apoio para deixar o país. A ordem para iniciar essas consultas foi dada pelo chanceler Mauro Vieira, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.
Com informações de Exame