X derrubado no Brasil? Entenda o conflito entre Musk e Moraes

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, deu o prazo de 24 horas para que o bilionário Elon Musk indique um novo representante legal do X no Brasil, sob pena de suspender a rede social no país. E para entender melhor é necessário voltar um pouco no tempo, especificamente, aos anos de 2020 e 2021, quando a Suprema Corte instaurou dois inquéritos para apurar a disseminação de conteúdos falsos e a existência e financiamento de organizações que atuam contra a democracia brasileira.

No início de 2023, a Corte também abriu uma ação para investigar as atividades de apoiadores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que resultou na tentativa fracassada de golpe em janeiro do ano passado. No STF, Moraes é relator dos inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos golpistas de 8 de janeiro. Entre outras decisões, o ministro determinou, no âmbito dessas investigações, o bloqueio de uma série de perfis em redes sociais administrados por pessoas acusadas de atentar contra a democracia e atacar o processo eleitoral brasileiro.

– O Estado Democrático de Direito é previsto no artigo 1º da Constituição Federal. Já o artigo 102 diz que cabe ao STF o papel de guardião da Carta Magna. –

As decisões de Alexandre geraram insatisfação entre direitistas e políticos ligados a Bolsonaro, que acusam o magistrado de censura e de cerceamento da liberdade de expressão nas redes sociais. Moraes, por outro lado, conta com o respaldo dos demais ministros do STF, que afirmam que a liberdade de se expressar não pode ser confundida com permissão para desrespeitar leis e agir contra a ordem democrática. O relator dos inquéritos no STF costuma dizer que as redes sociais não são terra sem lei, nem terra de ninguém.

Em abril deste ano, ao demonstrar o descontentamento de direitistas diante das decisões de Moraes, Musk utilizou o próprio perfil no X para atacar o magistrado e ameaçar não mais cumprir suas ordens judiciais.

Com a postagem na rede da qual é dono, o bilionário deu início a uma contenda pública com Alexandre de Moraes, que levou à inclusão do empresário no inquérito das milícias digitais, além da abertura de uma nova investigação contra Musk. A briga se seguiu com a imposição de multas, e com as decisões do bilionário de fechar o escritório do X no Brasil e de retirar o representante legal da plataforma do território nacional.

Nesta quarta-feira, 28, como o X não tem mais representante no Brasil – uma obrigação prevista na legislação brasileira – Moraes utilizou a própria plataforma para intimar Elon Musk. O ministro agiu assim para cobrar a indicação do representante, como já havia feito em relação ao Telegram no passado. A decisão também visa fazer o X pagar multas que foram impostas à plataforma. Musk reagiu com um meme.

Após uma série de ordens de Moraes para o bloqueio de contas na rede X no dia 6 e abril, Elon Musk fez uma postagem com ataques ao ministro e ameaçou não cumprir suas decisões, reativando perfis bloqueados judicialmente. Na sua própria plataforma, respondendo a uma postagem feita por Alexandre de Moraes sobre outro tema, Musk perguntou em inglês:

“Por que você está exigindo tanta censura no Brasil?”

Horas depois dessa primeira postagem, o filantropo voltou a atacar Moraes, ameaçando reativar contas bloqueadas, desrespeitando a justiça brasileira, mesmo que isso custasse o fechamento da empresa no Brasil e prejudicasse seu lucro.

“Nós estamos levantando as restrições. Esse juiz aplicou penas massivas, ameaçou prender nossos funcionários e cortar os acessos ao X no Brasil”, afirmou o empresário. No dia seguinte, um domingo, novos ataques de Musk ao ministro.

Inquérito das milícias digitais

No dia seguinte ao dos primeiros ataques de Musk, Moraes reagiu, determinando que a conduta do bilionário fosse investigada em um novo inquérito, que incluiu Musk entre os investigados no inquérito das milícias digitais.

Moraes também ordenou que a rede X não desobedeça a nenhuma ordem da Justiça brasileira. E estipulou multa de R$ 100 mil para cada perfil reativado irregularmente.

Ao justificar as medidas, Moraes disse ter visto indícios de obstrução de Justiça e incitação ao crime nas atitudes de Musk.

Depois das ações de Moraes contra o empresário, Musk chamou o magistrado de “ditador brutal” e disse que o ministro tem o presidente Lula “na coleira”.

X fecha escritório no Brasil

O clima de tensão entre Moraes e Musk prosseguiu nos meses seguintes, até 17 de agosto, quando a rede X anunciou o fechamento do escritório no Brasil e cerca de 40 funcionários da plataforma em território brasileiro foram demitidos.

O X tomou a medida extrema alegando que Moraes “ameaçou” multar e prender a responsável pelo escritório no Brasil, Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição, por descumprimento de decisões judiciais. O perfil da rede X que trata de assuntos globais publicou uma postagem falando sobre a decisão:

“Estamos profundamente tristes por termos sido forçados a tomar essa decisão. A responsabilidade é exclusivamente de Alexandre de Moraes. Suas ações são incompatíveis com um governo democrático. O povo brasileiro tem uma escolha a fazer – democracia ou Alexandre de Moraes”, dizia o comunicado.

Embora o escritório tenha sido fechado, o X continuou funcionando no Brasil e, inclusive, foi utilizado pelo STF para intimar Musk.

Intimação

A rede X continuou descumprindo decisões do STF relacionadas ao bloqueio de perfis acusados de ilegalidades, e em razão desse descumprimento, Moraes aumentou a multa diária pelo desobediência para R$ 200 mil, até que as determinações fossem cumpridas.

Diante da falta de um representante legal, o ministro do STF expediu uma nova ordem nesta quarta-feira (28), determinando que a rede indicasse quem deveria responder às decisões judiciais no país. E, na ausência de um representante para receber a intimação, Alexandre de Moraes inovou e decidiu intimar Elon Musk no próprio X, o que foi feito pelo perfil institucional do STF na plataforma.

Na intimação, Moraes dá prazo de 24 horas para que Musk nomeie um novo representante no Brasil. Além disso, o ministro fez uma advertência: caso a ordem não seja seguida, a rede social poderá ser suspensa no Brasil.

Na postagem do STF, foram marcados os perfis de Alexandre de Moraes e a conta do X para assuntos globais. Foi a primeira vez que a Suprema Corte utilizou a plataforma de Musk para intimar alguém. No caso, o próprio dono do X.

Além da intimação desta quarta, nesta quinta-feira (29), Moraes bloqueou contas da empresa Starlink Holding, que também pertence ao bilionário Elon Musk.

Mais memes

Em resposta à decisão de Moraes que pode resultar na suspensão do X, o dono da rede social publicou uma imagem produzida por inteligência artificial ironizando o ministro do STF.

A postagem, que compara o ministro a vilões de Star Wars e Harry Potter, foi feita na rede social à 1h39 desta quinta-feira, pelo horário de Brasília.

A decisão de Moraes que bloqueia contas da Starlink também gerou reações do bilionário. Em uma publicação no X, Musk chamou o ministro de “ditador do Brasil”.

Os episódios com a rede X e seu proprietário não são os únicos de Moraes com as big techs desde que ele tomou posse no STF em 2017.

Em 2023, o magistrado determinou que o aplicativo de mensagens Telegram indicasse, também no prazo de 24 horas, o responsável pela sua representação legal no Brasil.

O ministro tomou a decisão depois que o Supremo encontrou dificuldades para notificar o Telegram sobre medidas judiciais.

Na ocasião, o Telegram cumpriu a determinação de Moraes e indicou como representante um escritório de advocacia brasileiro.

O que diz a lei sobre representação?

De acordo com o Código Civil, para operar no Brasil, uma empresa estrangeira precisa de autorização do Poder Executivo. Além disso, entre outras obrigações, precisa ter um representante legal, conforme prevê o art. 1.138 da lei:

“A sociedade estrangeira autorizada a funcionar é obrigada a ter, permanentemente, representante no Brasil, com poderes para resolver quaisquer questões e receber citação judicial pela sociedade”.

Já o Marco Civil da Internet estabelece as regras para a remoção de conteúdos pelas plataformas.

Com informações de G1

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