Importação de energia para Roraima deve ser aprovada pela Aneel nesta terça, três dias após mais um apagão no Estado

A importação de até 15 megawatts (MW) da Venezuela para abastecimento de Roraima, que deve ser aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça (18), teve início na sexta-feira (14), mas no dia seguinte a ocorrência de uma falha a partir da linha de transmissão provocou um blecaute no Estado, único do Brasil ainda isolado do Sistema Interligado Nacional (SIN). A empresa Bolt Energy será responsável pelo fornecimento para Boa Vista e outras localidades.

Segundo informações disponibilizadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), uma falha no dia 15 levou à “abertura da linha” de transmissão de 230 quilovolts (kV) Boa Vista/Santa Elena, que fecha a interligação do sistema Roraima com o venezuelano.

No sábado, às 15h16 (hora local), o ONS identificou o desligamento, que durou até às 21h08 do mesmo dia levando o sistema a importar 7 MW ante uma programação de 15 MW.

O desligamento levou a um efeito em cascata das cargas de Roraima. Segundo o operador, “no mesmo minuto, houve o desligamento total da UTE Jaguatirica II, que estava gerando 67 MW. Consequentemente, houve atuação do 5° estágio do Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), interrompendo 103 MW, correspondendo a 65% da carga do Estado”, relata o operador.

O Erac é uma proteção que busca restabelecer o equilíbrio entre a geração e a carga do sistema elétrico, por meio do desligamento de cargas pontuais.

O Informe Preliminar de Interrupção de Energia no Sistema Interligado Nacional (IPIE) aponta que 15 minutos após o desligado, houve o desligamento total do sistema Roraima com a interrupção de 60 MW de cargas que ainda permaneciam ligadas após o primeiro evento. A recomposição das cargas foi iniciada às 15h52 (hora local), sendo concluída às 16h50.

A reportagem procurou o ONS e a Bolt Energy Comercializadora – empresa responsável pela importação no sistema –, mas não obteve retorno.

Importação da Venezuela

A retomada da importação de energia da Venezuela foi pensada para reduzir o custo da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) relacionado ao suprimento de Roraima. Para terem aprovação, as importadoras precisam conseguir comprar energia do país vizinho a um custo inferior ao do acionamento do parque termelétrico que abastece a região cujo valor é de R$ 1.096,11/MWh.

A CCC é um subsídio pago pelos consumidores que cobre as despesas com o diesel usado nas termelétricas de Roraima.

A importação da Venezuela é realizada por meio da linha de transmissão 230 kV Boa Vista – Santa Elena de Uiarén, responsável por interligar o ponto de medição ao ponto de entrega estabelecido na subestação Boa Vista.

A infraestrutura precisava de melhorias significativas, já que deixou de ser usada em 2019, quando o então presidente Jair Bolsonaro encerrou a importação da energia do país vizinho.  Na época, a falta de investimento na manutenção da infraestrutura se refletia em falta de qualidade no fornecimento de energia a Roraima, que sofria com apagões frequentes.

Um teste foi realizado em janeiro pelo ONS para verificar a viabilidade de importação de energia da Venezuela, e na ocasião o operador concluiu que “havia necessidade da complementação de informações e análises para a efetiva conclusão de viabilidade.

Aneel avalia redução da CCC

A importação de energia pela Bolt Energy Comercializadora pode economizar R$ 42 milhões em recursos da CCC, considerando o máximo de 15 MW entre o período de janeiro a abril de 2025.

A avaliação foi feita no contexto de um processo sobre o tema cuja deliberação deve acontecer na reunião da Aneel marcada para esta terça-feira. 

O voto da diretora Ludimila Lima, relatora do processo, foi disponibilizado e prevê a autorização para a importação, mas ainda precisa ter o aval dos demais diretores da autarquia.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) já estabeleceu que a importação se dará em caráter flexível e interruptível, deslocando geração termelétrica mais cara que o referencial de preço validado, cabendo ao ONS programação, planejamento e despacho dessa operação.

Com informações do MegaWhat Energy e Valor Econômico