Governo diz que expulsou quase todos os garimpeiros da Terra Indígena Yanomami

O governo federal praticamente acabou com a corrida ilegal ao ouro que levou milhares de garimpeiros à Terra Indígena Yanomami na floresta amazônica e causou uma crise humanitária de doenças e desnutrição, disse o responsável pelas operações.

Os Yanomami, maior grupo indígena da América do Sul que vive isolado, voltaram a ter um modo de vida normal, cultivando plantações e caçando, disse Nilton Tubino em recente entrevista à Reuters.

Ele dirige o gabinete governamental criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para coordenar a ação das forças policiais e militares, dos agentes ambientais e dos profissionais de saúde na terra indígena, onde vivem 27 mil Yanomami.

“Estamos vendo muitos deles tomando banho nos rios e voltando a caçar, e a plantar clareiras para se alimentarem”, afirmou.

Em centenas de operações desde março, tropas do Exército e da Marinha, apoiadas por agências de proteção do ambiente e dos indígenas, destruíram campos de mineração e garimpos de ouro.

Eles dinamitaram 42 pistas de pouso clandestinas usadas pelos garimpeiros na floresta amazônica, incendiaram 18 aeronaves, apreenderam 92 mil litros de diesel, afundaram 45 barcaças de dragagem, destruíram 700 bombas e desmontaram 90 antenas Starlink que permitiam aos garimpeiros avisarem uns aos outros sobre as equipes de fiscalização, conforme destacou Tubino. Um radar foi instalado na reserva para monitorar aviões clandestinos.

Ainda de acordo com o responsável pelas operações, as mortes por malária levadas pelos mineiros diminuíram, e a desnutrição foi controlada com alimentos fornecidos pelo governo, que reabriu postos médicos e está planejando construir um hospital em Surucucu, uma aldeia remota perto da fronteira com a Venezuela.

Uma fotógrafa da Reuters que esteve na região no início deste mês viu indícios de garimpeiros ainda dentro da reserva, mas a situação melhorou em relação ao ano passado.

Junior Hekurari, chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami, relatou que o governo expulsou os garimpeiros e superou a crise de saúde, mas que o garimpo afetou sua capacidade de obter alimentos, com as águas dos rios poluídas por mercúrio.

“As águas estão envenenadas e não há peixes. O nosso povo acredita que a terra foi contaminada e é por isso que as colheitas não estão crescendo.”

Pouco depois de assumir o cargo, Lula lançou em fevereiro de 2023 uma grande operação de fiscalização para retirar cerca de 25 mil garimpeiros da Terra Yanomami. Com o apoio das Forças Armadas, a ação do governo conseguiu expulsar 80% dos garimpeiros.

Mas assim que os militares se retiraram, os garimpeiros começaram a voltar, juntando-se a outros que haviam se escondido na floresta.

Tubino disse que o número de garimpeiros restantes é desconhecido, mas as operações deste ano reduziram significativamente sua presença e eliminaram mais da metade das áreas de prospecção de ouro.

“Ainda é preciso trabalhar para fechar a linha de suprimentos que mantém os garimpeiros em atividade, desde combustível e alimentos até a compra de suas pepitas de ouro”, acrescentou Tubino.

Com informações do InfoMoney