Comandante da PM de Roraima e deputado Rarison Barbosa são alvo da PF em investigação sobre comércio ilegal de armas e munições

O comandante-geral da Polícia Militar de Roraima, Miramilton Goiano de Souza, foi alvo de uma operação da Polícia Federal, nesta quarta-feira (23), que investiga um esquema de comércio ilegal de armas e munições. O deputado estadual Rarison Barbosa (PMB), policiais penais e militares também estão entre os investigados. Pelo menos 16 mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos com Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado (MPRR)

Oito carros da PF foram enviados à casa de Miramilton, no bairro Centenário, zona oeste de Boa Vista. Cerca de 80 policiais fizeram buscas e apreensões na capital de Roraima e na cidade de Fernandópolis, em São Paulo. As ordens foram expedidas pela Justiça de Roraima. Miralmilton e Rarison foram procurados pela reportagem, mas não se manifestaram.

Em maio, O Globo revelou que investigações das polícias Civil e Federal apontam para uma organização criminosa formada por agentes da Polícia Militar de Roraima acusados de cometerem diversos crimes e atuarem como milícia privada no Estado.

A fim de intimidar invasores que extraem ilegalmente ouro e cassiterita na Terra Indígena Yanomami, o grupo pratica extorsão e roubo de toneladas de minérios para ficar com o lucro, além de vender proteção e armamentos aos garimpeiros. Mais de 40 policiais militares estariam envolvidos em diversos atos ilícitos. Entre os citados por testemunhas ouvidas pelas autoridades, está o atual comandante-geral da PMRR, Miramilton Goiano de Souza. Em nota, ele diz que as suspeitas “são inverídicas, sem fundamentos e não se sustentam quando colocadas diante dos mais de 34 anos na corporação”.

Documentos obtidos pelo Globo revelam que policiais da ativa se uniram a criminosos para realizarem roubos, extorsões, torturas e execuções de garimpeiros, além de assassinatos sob encomenda ligados à disputa por terras no Estado.

O esquema ainda oferece, de acordo com as investigações, serviços de segurança, escolta e munições a outros grupos de invasores que trabalham no garimpo, além de coletes à prova de bala. As autoridades também apuram a participação dos integrantes do bando no transporte de cocaína na fronteira com Venezuela e Colômbia por meio de aeronaves.

As investigações sobre a constituição de milícia por parte de policiais militares tiveram início em setembro de 2022, quando oficiais da ativa participaram de uma desastrada tentativa de roubo de um avião, usado em viagens para garimpos localizados na terra indígena e de propriedade de Efraim Hadan Abreu da Silva, o “Smith”, segundo aponta o inquérito de número 3027/2022, com 1.006 páginas, da Polícia Civil de Roraima, ao qual a reportagem teve acesso.

Coronel foi visitar investigado pela PF

Em outra investigação para desarticular uma facção criminosa com base na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista, desta vez da Polícia Federal, o nome do coronel Miramilton volta a figurar em relações suspeitas. Um dos investigados pela PF é o agente penitenciário Renie Pugsley de Souza, filho do atual comandante-geral da PM. 

Os dois teriam feito ao menos três visitas irregulares ao interno Jonathan Novaes de Almeida, preso na Operação K’daai Maqsin, de 2019, que investigou uma organização responsável por vender armas e munições ilegalmente para garimpos e facções criminosas. Segundo a PF, Renie de Souza, que usava uma balaclava nas visitas, não estava lotado na unidade prisional e seu pai não apresentava vínculos com a Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc).

Antes de ser preso, Jonathan Noaves de Almeida chegou a trabalhar no Centro de Formação de Vigilantes de Roraima, administrado pelo coronel Miramilton, de acordo com a PF.  No momento, a empresa de segurança consta como inativa na Receita Federal. A investigação da PF apontou que o filho do coronel mantinha uma elevada movimentação financeira em suas contas bancárias, apesar de receber na época R$ 4 mil de salário.

Por meio de nota, o coronel Miramilton afirmou que tanto ele quanto o filho se identificaram na visita ao preso investigado e que a “fala foi autorizada pelo chefe de plantão e devidamente registrada, sem ilegalidade nenhuma”. O coronel, que é pastor missionário, diz que “à época o cidadão frequentava a mesma igreja com sua família”.

Capitão da PM de Roraima também envolvido com crimes

Em maio, o capitão da Polícia Militar de Roraima Helton John Silva de Souza, de 48 anos, foi preso, suspeito de envolvimento no duplo homicídio do casal de agricultores Flávia Guilarducci, de 50 anos, e Jânio Bonfim de Souza, de 57, mortos em 23 de abril. A motivação do crime envolveria uma disputa por terras na região.

Com informações de O Globo e PF