Ministério da Saúde, em parceria com Cufa e Frente Nacional Antirracista, inicia construção de hospital na Terra Yanomami
A comunidade Yanomami em Roraima está prestes a receber um hospital, fruto de um esforço coletivo liderado pela Central Única das Favelas (Cufa) e pela Frente Nacional Antirracista, em cooperação com o Ministério da Saúde.
Segundo Celso Athayde, fundador da Cufa e da Favela Holding, o caminho até essa fase foi árduo e repleto de desafios. Desde o início, a ideia de construir um hospital em uma área tão remota exigiu um planejamento detalhado e a articulação com diversos parceiros para viabilizar o projeto.
“A jornada foi desafiadora em todos os sentidos. Tivemos que enfrentar questões burocráticas, geográficas e logísticas. Mas, acima de tudo, foi essencial engajar pessoas e empresas que acreditassem na causa e estivessem dispostas a fazer parte dessa missão”, afirma Celso.
Empresas como o iFood foram fundamentais para o sucesso da iniciativa. A plataforma de delivery foi uma das primeiras a se unir à causa, fornecendo apoio financeiro e logístico para tirar o projeto do papel.
“O apoio do iFood foi decisivo. Eles entenderam desde o início a importância de levar dignidade e saúde a essa população”, destaca Celso.
O hospital não será apenas um centro de saúde; ele representa um símbolo de resistência e valorização dos povos originários. Para a Cufa e seus parceiros, essa iniciativa é uma forma concreta de mostrar que é possível transformar vidas quando há união, solidariedade e um compromisso real com a justiça social.
Com as obras finalmente iniciadas, a expectativa é que o hospital esteja em funcionamento nos próximos meses, oferecendo serviços essenciais para a comunidade Yanomami e promovendo melhorias na qualidade de vida dessa população.
Pedra fundamental
Nesta terça-feira (27), foi lançada a pedra fundamental da construção do hospital centro de referência em Surucucu, voltado para o atendimento dos Yanomami e de outras 60 comunidades da região. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, falou via internet. Devido às fortes chuvas na região, a aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) não teve condições de pousar.
O hospital, que terá um custo total de R$ 23 milhões, conta com o investimento de R$ 15 milhões do Ministério da Saúde, enquanto a Cufa e a ONG alemã Target Reudiger Nehberg investirão R$ 8 milhões. O objetivo é reformar e ampliar as instalações físicas existentes, adaptando-as às necessidades de atendimento e aos padrões de qualidade estabelecidos, bem como aos programas de necessidades apresentados por profissionais de saúde atuantes na unidade.
Além disso, serão construídas novas edificações para alojamento de profissionais de saúde, refeitório e cozinha, garantindo melhores condições de trabalho e acolhimento aos usuários. Também serão implantados sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e tratamento de resíduos, garantindo a segurança e a higiene do ambiente, além de equipar o centro de referência com os recursos materiais e tecnológicos necessários para a prestação de serviços de saúde de qualidade.
Para não paralisar os atendimentos, foram construídos alojamentos provisórios para pacientes por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). O Exército e a ONG Médicos Sem Fronteiras disponibilizaram barracas e tendas de atendimento voltadas para a assistência durante a empreitada.
Investimentos
O povo Yanomami tem a maior terra indígena do Brasil, com 10 milhões de hectares, mais de 390 comunidades e 30 mil indígenas. Desde janeiro de 2023, foram implementadas diversas ações emergenciais para reestruturar a saúde indígena no local, que sofreu um desmonte entre 2019 e 2022.
O Ministério da Saúde notificou queda de 33% no número de mortes no povo Yanomami. No primeiro trimestre de 2024, foram 74 óbitos. No mesmo período de 2023, os registros alcançaram 111. Os dados preliminares indicam que houve queda nos números de mortes causadas por desnutrição (-71%), infecções respiratórias agudas (-59%) e malária (-50%).
O ministério reabriu sete polos-base. Com isso, 5,2 mil indígenas voltaram a ter acesso à assistência. Atualmente, todas as 37 unidades estão em funcionamento.
O número de profissionais de saúde atuando no território Yanomami subiu 116%. Passou de 690, no início de 2023, para 1.497 agora.
Em 2024, houve aumento de 83,1% no número de exames realizados para diagnóstico da doença no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, comparando-se com o mesmo período do ano anterior. O volume de testes passou de 37,5 mil no primeiro trimestre, para 68,7 mil no mesmo período deste ano.
A imunização foi reforçada. As doses de rotina passaram de 8.048 mil nos três primeiros meses do ano passado, para 11.872 neste ano — alta de 47,5%. Já as doses aplicadas em campanha saltaram de 3.225, em 2023, para 6.636 neste ano. O resultado significa aumento de 105% no período.
Por fim, a pasta concluiu 1,5 mil ações de infraestrutura e saneamento no território Yanomami, incluindo a reestruturação de 10 unidades básicas de saúde indígena (UBSIs), 80 operações de limpeza e manutenção de pistas de pouso para garantir a acessibilidade e segurança nessas áreas críticas. Houve, ainda, a instalação de 35 estruturas de tecnologia da informação e comunicação. Entre elas, antenas e maletas T3SAT.