Disney e Amazon compram minério de empresa alvo da PF por garimpo ilegal em Terra Yanomami
As grandes corporações do entretenimento Amazon e Walt Disney Company, com serviços de streaming de alcance mundial, são acusadas de comprarem minério oriundo do garimpo ilegal que atua na Terra Indígena Yanomami. A empresa mineradora White Solder Metalurgia e Mineração foi alvo de operação da Polícia Federal (PF).
As informações foram reveladas em reportagem da Folha de São Paulo nesse domingo (3). A mineradora produz estanho em escala global e, no site da empresa, ela alega participar de toda a cadeia produtiva do metal, desde a mineração de cassiterita, que dá origem ao estanho.
A Terra Indígena Yanomami é rica no minério, tanto que, nos últimos anos, foram divulgados diversos casos de garimpeiros presos em embarcações repletas de cassiterita nos rios que cortam a área. A área tem sido explorada pela atividade garimpeira, que causou mortes de vários indígenas Yanomami e é a maior responsável pela crise humanitária no território.
Nesse contexto a White Solder foi alvo da Operação Forja de Hefesto, da PF, em dezembro do ano passado. O nome da empresa apareceu em registro obtido pelos investigadores que a aponta como a recebedora de R$ 166 milhões em cassiterita oriunda da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil.
A Cooperativa é apontada pelos investigadores como uma espécie de intermediária entre as organizações criminosas que organizam o garimpo no território Yanomami e a grande mineradora, devido à dificuldade de acessar a região.
Após consulta no portal da Comissão de Valores Imobiliários dos EUA, foi descoberto que a White Solder atua como fornecedora da Amazon, Walt Disney Company e Starbucks, entre outras empresas internacionais.
As companhias Disney e Amazon não comentaram. O Starbucks, por sua vez, diz que é comprometido com valores éticos em toda a sua cadeia de fornecedores e não tem mais contratos vigentes com a White Solder.
A mineradora
De acordo com a Agência Nacional de Mineração a empresa tem 17 requerimentos de exploração de cassiterita e minério de estanho. Nenhum deles em Roraima. São 16 em Rondônia e um no Mato Grosso.
Para a PF, a White Solder comprava o mineral dos garimpeiros, o processava e depois revendia para os seus clientes, entre eles as big techs citadas. Os investigadores agora tentam descobrir se a operação era realizada de forma deliberada ou por negligência.
Os policiais federem veem a empresa como o último ponto da organização criminosa que atua em território Yanomami. A suspeita é de que a atividade legalizada em Rondônia sirva para lavar e esquentar o minério ilegalmente obtido.
Os R$ 166 milhões usados para comprar cassiterita da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil foram pagos entre fevereiro e julho de 2021 e, segundo os investigadores, equivalem a 90% dos rendimentos ilegais da Cooperativa.
De acordo com os federais, há indícios de que um intermediador ligado à Cooperativa seria o chefe do esquema. Foram encontrados repasses que somam R$ 23 milhões a essa pessoa. Já em relação à Cooperativa, os federais apontam que 65% das suas operações em 2021 estariam envolvidas com garimpo ilegal em terras indígenas e que a filial de Roraima seria uma empresa que serviria como fachada para a organização criminosa.
Após as investigações, a Justiça determinou a suspensão das atividades econômicas da White Solder e da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil, assim como o bloqueio dos seus bens e CNPJs. A mineradora teve R$ 108 milhões bloqueados em sua matriz em São Paulo e na filial em Rondônia. Já a Cooperativa teve os CNPJs das filiais em Rondônia e Roraima desativados e viu o bloqueio dos R$ 23 milhões destinados ao intermediário.
Fonte: FolhaBV